Blog: As Flores do Caminho

Uma Nano Reflexão Sobre as Reborn.
Com florais, é claro!

Nos últimos anos, o fenômeno das bebês reborn — bonecas hiper-realistas que simulam bebês humanos com impressionante fidelidade — tem chamado a atenção não apenas como objeto de coleção, mas como expressão simbólica de necessidades emocionais. Para além da estética e da arte envolvidas em sua produção, essas bonecas têm sido adotadas por mulheres que lhes conferem estatuto de filhos: são alimentadas, vestidas, levadas ao médico, registradas em “certidões de nascimento” e, pelo menos em um caso, incluídas em litígios judiciais de guarda. Ainda que essa disputa tenha como pano de fundo interesses comerciais vinculados à boneca, ela também revela o desejo de partilhar uma convivência afetiva com ela.

Tal fenômeno, embora singular, não é exatamente novo em termos psicológicos. O uso de bonecas na vida adulta há muito tempo é presente em contextos colecionáveis ou terapêuticos. Em lares geriátricos, por exemplo, a doll therapy tem se mostrado eficaz no cuidado de mulheres com Alzheimer e Demência, promovendo conforto, reduzindo agitação e restaurando, simbolicamente, a dignidade da experiência do cuidado. Segundo estudos relatados em Everyday Health e Human Life, a presença da boneca pode atuar como um objeto transicional despertando memórias, promovendo interação social e reativando sentidos arquetípicos do feminino e da maternagem.

No entanto, quando essa relação simbólica ou imaginativa ultrapassa certos limites e se confunde com uma realidade, se transformando em sintomas, ela nos convida a refletir: o que essa dinâmica revela sobre essas questões? E são muitas as possibilidades de estabelecer relações possíveis.

Os sintomas são portadores de sentido, e frequentemente expressam uma tentativa da psique de compensar algo que foi esquecido, negado ou reprimido. Nesse sentido, a maternagem exercida sobre bonecas hiper-realistas pode representar não um simples capricho, mas uma forma simbólica de lidar com feridas emocionais profundas — muitas vezes ligadas à infância, à rejeição precoce ou à impossibilidade da maternidade biológica.

O arquétipo da Mãe, enquanto imagem psíquica coletiva, também estrutura nossa relação com o cuidado, o vínculo e a nutrição afetiva. Sua ausência ou distorção — seja por abandono, negligência ou relações maternas imaturas — pode gerar uma busca por compensação no mundo externo. O uso da reborn como objeto de apego pode ser uma tentativa inconsciente de reencenar um vínculo que não pôde ser vivido ou de dar forma a um aspecto do feminino que permanece fragmentado.

Toda função simbólica tem um papel de mediação entre os conteúdos inconscientes e a consciência. No entanto, quando o símbolo é vivido como realidade literal — como no caso extremo de quem simula o parto de uma boneca, solicita assento preferencial no transporte público ou busca a guarda judicial para maternar um objeto — há o risco da regressão psíquica e da perda da capacidade de discernimento entre fantasia e o que chamamos de realidade objetiva.

A dimensão terapêutica: florais e o acolhimento da dor.

A escuta clínica desses casos exige delicadeza. Há histórias de perdas, de impossibilidades gestacionais, de traumas silenciosos. E, com certa frequência, um vazio de maternidade que se torna intolerável. Neste contexto, várias essências florais podem colaborar, além de um processo psicoterapeutico. Trago apenas três:

Paineira (Florais Filhas de Gaia) atua sobre a conexão com a Mãe física ou arquetípica, favorecendo vínculos afetivos mais seguros e amorosos. É especialmente útil para pessoas com sentimentos de abandono ou rejeição na infância, permitindo que o indivíduo acesse o cuidado e a proteção de modo interno, sem depender ou de apoiar-se somente em vínculos externos.

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Evening Primrose (Florais da Califórnia) trabalha memórias profundamente inconscientes de rejeição, muitas vezes enraizadas na vida intrauterina ou nos primeiros contatos afetivos. Esta essência pode catalisar um movimento interno que pode remeter a transformação interior, promovendo abertura emocional onde antes havia retraimento e medo de amar. Sua ação é sutil, mas poderosa: ajuda a reorganizar os registros mais primários da existência.

Leucantha (Florais de Saint Germain), por sua vez, é indicada em casos de maternidade bloqueada ou imatura, incluindo situações de gravidez psicológica. Atua fortalecendo o vínculo entre mãe e filho — seja nas relações físicas ou simbólicas —, promovendo uma reconexão com os instintos de cuidado e amor nutridor.

Para concluir, ao invés de patologizar tais manifestações de forma precipitada, podemos estabelecer uma escuta simbólica: o que está tentando nascer por meio desta boneca? Que parte da alma deseja ser cuidada, acolhida, redimida? Ou ainda, manifestar o cuidado de maternal e ser maternado, o vínculo que ainda não pôde ser vivido, reconhecido? Mitigar a solidão, a sensação de abandono, entre tantas outras possibilidade. A fantasia e imaginação não são meros produtos da mente criativa ou infantil, mas vias legítimas de acesso ao inconsciente e à realidade psíquica. Elas têm um papel central no processo de desenvolvimento. Criam zonas intermediárias entre o ego e o inconsciente — um espaço que pode-se experimentar sem ser tomado ou invadido pelas imagens internas. É também por isso que a arte, os mitos e as narrativas têm tanto valor na psicologia analítica.

Quando acolhidas com seriedade e amparo terapêutico, essas expressões podem se transformar em porta de entrada para um trabalho mais profundo de reconexão com o feminino, com a criança interior e com os vínculos perdidos da história pessoal.

Ana Roxo - Psicologia Junguiana e Terapia Floral - www.anaroxo.com - Sempre apoiando o seu equilíbrio e autoconhecimento.

Referências:

Jung, C.G.Tipos Psicológicos. Obras Completas. (CW 6) Petrópolis: Vozes
Jung, C.G. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (CW 9/I) Petrópolis: Vozes
Winnicott, D.W. (1953). Transitional Objects and Transitional Phenomena.
Human Life e Everyday Health – artigos sobre Doll Therapy e Alzheimer.
Florais citados: Filhas de Gaia, Califórnia (Range of Light), Saint Germain.

Assim na Terapia como nos Florais 

No contexto terapêutico, o caminho para a restauração do equilíbrio psíquico e emocional passa, inevitavelmente, pelo reconhecimento, sustentação, ressignificação e integração dos sintomas. Em vez de serem tratados como meros distúrbios a serem eliminados, os sintomas são compreendidos, na perspectiva da Psicologia Analítica, como expressões simbólicas do inconsciente — manifestações que buscam ser ouvidas e compreendidas (JUNG, CW 9/II, §15).

A harmonia não acontece por negação da dor, mas pela integração da polaridade ausente — da virtude ou qualidade que está fora do alcance da consciência naquele momento. Esse processo, que envolve tempo, escuta e disposição para o desconforto, é favorecido tanto pela psicoterapia quanto pelo uso das essências florais, que atuam como catalisadores sutis do desenvolvimento interior.

Para muitos, a ideia de sustentar a dor, a angústia ou o desequilíbrio pode soar estranha — especialmente em uma cultura que valoriza o alívio rápido e a positividade imediata. No entanto, é justamente no sustentar do sintoma que o processo de transformação se inicia. Jung nos lembra que "o encontro com o sintoma pode ser o começo de uma mudança radical de atitude" (JUNG, CW 16, §186). Ao acolhermos aquilo que nos fere, em vez de combatê-lo cegamente, oferecemos um espaço para que o inconsciente se manifeste de forma criativa.

No universo da terapia floral, essa resistência ao contato com o sofrimento pode ser ainda mais acentuada. Isso se deve, em parte, à forma como os florais costumam ser apresentados no senso comum: em geral, os textos descritivos enfatizam fortemente o aspecto positivo das essências, quase sempre vinculando-as a ideais de paz, luz e elevação espiritual. Em muitos casos, essas descrições são tão idealizadas que podem parecer inatingíveis na concretude da vida humana.

No entanto, é preciso lembrar que os florais atuam sobre estados de desequilíbrio tanto quanto sobre potenciais de virtude. Cada essência traduz, de forma simbólica, uma paisagem emocional ou comportamental que pode ser acolhida, compreendida e, aos poucos, integrada. São fragmentos significativos da alma humana, e não representações totalizantes de quem somos.

Por isso, ao trabalhar com uma essência, é essencial considerar o campo emocional e psíquico que ela mobiliza, reconhecendo tanto seus aspectos luminosos quanto suas zonas de sombra. Como na dinâmica dos arquétipos descritos por Jung, toda qualidade contém seu oposto em potencial — não há coragem sem medo, nem amor sem a possibilidade de rejeição.

É também compreensível que muitos produtores de essências priorizem a descrição de seus efeitos benéficos. Isso porque a ação floral, em última instância, busca evocar o que há de mais íntegro no ser: suas forças de reorganização, seus centros de verdade e seus núcleos de saúde. Mas isso não exclui a necessidade de olhar o sintoma como parte do processo, e não como um erro a ser corrigido.

A natureza — e também a alma — é feita de polaridades complementares. O movimento da cura não se dá pela negação da dor, mas pelo encontro respeitoso com aquilo que ainda não foi integrado. Esse é o convite silencioso das essências florais e da escuta analítica: transformar o sintoma em símbolo, e o conflito em consciência.

Na perspectiva da Psicologia Analítica, a vida psíquica se estrutura a partir da tensão entre opostos. Luz e sombra, razão e emoção, introversão e extroversão, contenção e impulso: todos esses pares formam dinâmicas vivas que, ao se manterem em tensão criativa, geram a energia necessária para o movimento da alma. Como afirmou Jung, "a energia psíquica provém da tensão entre os opostos" (JUNG, CW 6, § 470).

É dessa energia — nascida do conflito entre extremos — que se origina o impulso para o crescimento, a transformação e o amadurecimento psíquico. A alternância entre estados considerados negativos e positivos é, até certo ponto, não apenas natural, mas necessária. A saúde, vista sob essa ótica, não é um estado fixo ou idealizado, mas um processo contínuo de equilibração dinâmica entre polos opostos, como coragem e medo, força e vulnerabilidade, alegria e dor.

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Ao reconhecermos um estado de desequilíbrio e nos dispormos a sustentar esse desconforto com consciência e presença, abrimos espaço para que o sintoma se manifeste com seu verdadeiro sentido. Esse sustentar — que nada tem a ver com resignação passiva — é um movimento ativo da psique em direção à integração. Jung nomeou esse processo de função transcendente: a capacidade de conter os opostos sem tentar eliminá-los, até que um novo significado emerja da tensão entre eles (JUNG, CW 8, §131).

Esse caminho exige tempo, escuta e acolhimento. Nenhum processo psíquico profundo é instantâneo. É preciso respeitar os ritmos da alma, permitindo que o sintoma, em vez de ser combatido, revele seu conteúdo simbólico — aquilo que foi recusado pela consciência, mas que insiste em retornar porque tem algo essencial a comunicar.

No campo da terapia floral, esse princípio também se aplica. As essências não agem para "anular" emoções difíceis, mas para promover a integração de qualidades negligenciadas. Ao trabalhar com a polaridade — como medo e coragem, rigidez e flexibilidade, desespero e esperança — os florais catalisam um processo de reconexão com as virtudes esquecidas ou distorcidas pela dor. Como ensinava Edward Bach, “cura-te a ti mesmo” não significa anular o sofrimento, mas colaborar com ele até que se transforme em sabedoria vivida.

Por isso, é preciso reconhecer a legitimidade das oscilações psíquicas. Dias bons e ruins, alegria e tristeza, angústia e serenidade: a alma se movimenta entre extremos, e é nesse vaivém que reside a possibilidade de cura. A saúde, na psicologia profunda, não é perfeição, mas integração.

Entre o aforismo grego “Conhece-te a ti mesmo” e o princípio de Bach “Cura-te a ti mesmo”, há um caminho comum: o da escuta profunda, do cuidado respeitoso com a própria dor e da disposição para transformar o sintoma em símbolo.

Referências:
Jung, C.G.Tipos Psicológicos. Obras Completas. (CW 6) Petrópolis: Vozes
Jung, C.G. A Energia Psíquica. Obras Completas. (CW 8). Petrópolis: Vozes
Bach, Edward. Cura-te a ti mesmo. São Paulo: Pensamento, 1994.
Jung, C. G. Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo. Obras Completas. (CW 9/2). Petrópolis: Vozes.
Jung, C. G. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas. (CW 16/1). Petrópolis: Vozes.
Harding, Esther. The Way of All Women. New York: Longmans, Green and Co., 1933.

Ana Roxo, outubro 2023.

Imagem na Terapia Floral e na Psique

E aí, qual é a imagem que você tem de si mesma? Como anda essa percepção? O que você tem imaginado para o futuro? E os likes nas imagens que você posta?

A imagem ocupa um espaço muito maior em nossas vidas do que costumamos supor.

Para os terapeutas florais, a importância da imagem também se manifesta nos próprios conceitos dos florais, especialmente no que chamamos de gestual da planta — compreendido por sua forma, crescimento e função, observados fundamentalmente pela aparência.
Mas, para a psique, o papel da imagem é ainda mais profundo:
"Outro ponto que estabelece uma relação entre as teorias junguianas e a prática com as essências florais é o vínculo dos indivíduos com as imagens.

Para Jung, as imagens não são apenas formas de retratar a realidade com base no que é captado e interpretado pelos sentidos; tampouco se reduzem a manifestações criativas da imaginação ou a representações das fantasias.

As imagens são expressões fundamentais da psique, que é criativa, produz seus próprios símbolos e possui um movimento autorregulador. Ao desenvolver o conceito de arquétipos, Jung se referiu às 'imagens primordiais', pois compreendia que elas expressam ideias de forma muito mais ampla do que as palavras conseguem alcançar. As palavras limitam e não são capazes de revelar por completo uma ideia. Apenas por meio de metáforas, poemas e figuras de linguagem — que, por definição, também envolvem imagens — é possível tocar aspectos mais profundos do significado."
No campo das essências florais, essa compreensão também se aplica. As imagens das plantas são parte fundamental da observação de seu gestual, revelando sua linguagem anímica. Parte dessa linguagem pode ser interpretada e representada racionalmente, mas outra parte só se revela através da simbologia de suas funções.

E, como todo símbolo, há sempre um conteúdo acessível à razão e outro que permanece inconsciente — como afirmou Jung ao definir o conceito de símbolo.

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As imagens também são utilizadas como técnica de escolha dos florais na composição de uma fórmula. Alguns profissionais apresentam imagens das flores, e o cliente seleciona aquelas que despertam algum tipo de atração — seja pela beleza, exotismo, repulsa ou afinidade. Essa conexão emocional, estabelecida pela vivência com as imagens, pode revelar de forma mais rápida ou precisa a condição psíquica do indivíduo.

As essências florais, por sua natureza polar e complementar — expressa simbolicamente na forma e na função das plantas — dialogam com as emoções e catalisam, de modo simbólico, comportamentos semelhantes nos indivíduos. Com isso, promovem uma mudança no estado de humor, favorecendo o contato com recursos internos e incentivando uma auto-observação consciente.”

Ana Roxo – Enantiodromia e a Dinâmica dos Opostos para Jung e as Virtudes Opostas na Terapia Floral – Monografia – Especialização em Psicologia Junguiana – IJEP, Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa.

Florais e Teorias Junguianas: Personas e Walnut dos Florais de Bach

Os florais são remédios para a alma — e os antigos gregos chamavam a alma de psique. Desde então, esse termo também é utilizado pelas áreas da psicologia, psiquiatria e afins.

Assim como o corpo cresce e se desenvolve de forma involuntária, a psique também constrói suas estruturas em um processo próprio, intrínseco e paralelo ao desenvolvimento corporal.

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Uma das estruturas desenvolvidas pela psique é a persona — as “máscaras” ou “uniformes” que nos permitem transitar por diferentes contextos sociais. Mais especificamente, quem desenvolve as personas é o ego, outra estrutura psíquica que será abordada em outro momento.

Voltando à persona: é provável que você já tenha percebido que adota certas características e comportamentos no ambiente de trabalho que diferem daqueles que manifesta entre amigos — e que, por sua vez, também se diferenciam dos que surgem em relacionamentos românticos, por exemplo. É sempre você, mas com diferentes performances adaptadas às "exigências" de cada situação. Essa capacidade de adequação é mediada pelas personas.

Na infância, a construção das personas é fortemente influenciada pelos pais, por códigos morais, culturais e sociais. Naturalmente, buscamos nos adaptar e corresponder a esses padrões. Com o tempo, no entanto, também é necessário nos desidentificarmos dessas referências e reconhecermos que não somos — e nem devemos ser — cópias fiéis das expectativas da família ou da sociedade. Somos indivíduos únicos, com uma organização e expressão próprias das nossas características.

As personas nos auxiliam na adaptação aos diversos meios sociais e continuam se modificando ao longo da vida — seja em novos trabalhos, relacionamentos, culturas ou fases de desenvolvimento, como a vida adulta, a maturidade e a velhice. Ou, pelo menos, deveriam continuar se ajustando, se estivermos falando de saúde psíquica. Quando isso não ocorre, é possível que surjam patologias — mas essa é uma outra conversa, para outro momento.

O objetivo desta breve reflexão sobre as personas é relacioná-las à importância do floral Walnut, do sistema de Bach. Sua principal atuação está justamente na capacidade de adaptação. Walnut nos ajuda a manter a fidelidade à nossa essência, mesmo enquanto nos adaptamos aos diferentes grupos e contextos. Ele sustenta a individualidade frente às influências externas e, em períodos de transição, favorece a flexibilidade interna necessária para lidar com as mudanças.

Como a persona tem, em sua base arquetípica, a função de adaptação, Walnut é um grande aliado — daqueles florais que, como costumo brincar, “deveriam estar em todas as fórmulas”.

Quer melhor adaptação? Pense em Walnut.
Quer saúde mental? Pense também em Terapia Floral.

Ana Roxo

Florais e Crises

A afirmação de que os florais auxiliam nos estados emocionais já não é uma questão para quem os utiliza. A imensa maioria dessas pessoas vivencia essa realidade de forma concreta.

Por muito tempo, no entanto, a ideia de que os florais curam ou “tiram” a dor emocional me causava certo incômodo. As plantas medicinais curam por meio de seus princípios ativos. Já os florais são substâncias inertes — não contêm princípio ativo. São portadores de uma informação da natureza e, por isso, não podem ser compreendidos sob a lógica da alopatia.

No meu entendimento, os florais funcionam como incentivadores de uma resposta emocional mais saudável diante das oscilações, conflitos e crises. Eles não retiram o indivíduo da dor ou da crise, mas favorecem um enfrentamento mais consciente, ao resgatar capacidades internas que estavam enfraquecidas ou fora do alcance da consciência. Aliviam o desconforto, mas, ao mesmo tempo, propõem o confronto e uma elaboração mais profunda das questões. É justamente por isso que os florais se tornam grandes aliados da terapia.

Ajudar o indivíduo a enfrentar a crise, abrindo espaço para novas percepções, é um caminho mais potente para lidar e, muitas vezes, superar conteúdos difíceis de serem integrados pela consciência — como os estados depressivos, por exemplo. Os florais não retiram alguém da crise, porque é justamente atravessá-la que possibilita a ressignificação. Por isso, a ideia de evitar a dor emocional por meio de drogas nem sempre é a melhor opção — embora, em certos casos, seja necessária e não deva ser descartada. Mas a superação, ou mesmo a transformação da dor, se dá justamente nesse processo de atravessamento. E é nesse ponto que os florais oferecem um suporte essencial.

Neste trecho, há uma bela reflexão sobre a importância das crises e da dor:

"(...) a depressão leva o sujeito necessariamente para baixo, para um aprofundamento em si mesmo. Diminui o ritmo, desacelera o intelecto, aproxima o horizonte. Talvez nada hoje em dia consiga para nós o que consegue a depressão, e por isso sua presença é tão marcante: esforços da farmacologia à parte, na depressão somos lançados irremediavelmente ao vale da alma."

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A preocupação com a profundidade e a depressão também permite à psicologia arquetípica uma crítica à cultura, na medida em que "uma sociedade que não permite a seus indivíduos deprimir-se não pode encontrar sua profundidade e deve ficar permanentemente inflada, numa perturbação maníaca disfarçada de crescimento."

Esse trecho foi retirado da introdução escrita por Gustavo Barcellos para o livro Psicologia Arquetípica, de James Hillman, 1ª edição digital, 2022, Ed. Cultrix.

A imagem da flor corresponde à essência floral Black-Eyed Susan, do sistema californiano. Não recomendo o uso dessa essência fora de um processo terapêutico, devido à possibilidade de acesso a conteúdos mais densos — como o próprio repertório da essência salienta:

"(...) Esta essência nos ajuda a lançar luz sobre essas partes não assumidas ou reconhecidas de nós mesmos. Ela nos ajuda a olhar para nosso lado negativo, assim como para aquilo que também existe em nós, mas que tentamos negar. Suas qualidades iluminam e abraçam o todo, e nos ajudam a aprofundar o processo de conhecimento de nosso lado ‘sombra’.” — Repertório das Essências Florais da Califórnia

Ana Roxo

Chegou!

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Alegria em dobro: ver as obras do Dr. Ricardo Orozco sendo publicadas no Brasil e ter tido a honra de escrever o prólogo da primeira delas em português.
Este é o primeiro livro traduzido para o português de uma série originalmente escrita em espanhol — e já disponível em italiano e francês — que, aos poucos, começa a chegar ao público brasileiro pelas mãos cuidadosas e competentes da tradutora Janaína Carvalho, Terapeuta Floral, Acupunturista e Terapeuta Transpessoal, a quem deixo aqui meu sincero agradecimento. Além do convite, é graças ao seu trabalho atento e minucioso que essas obras nos alcançam, após tantos anos de espera.
Agradeço também ao Dr. Ricardo Orozco por suas pesquisas, pelo amor dedicado aos florais e pela generosidade com que compartilhou suas experiências nos encontros que tivemos.
Conheci seu trabalho por meio da Terapeuta Floral Lucy Godoy e, desde então, seus livros tornaram-se uma valiosa fonte de pesquisa e aprofundamento na Terapia Floral. Tenho certeza de que o mesmo acontecerá com todos os profissionais que tiverem contato com sua obra.
Que todas(os) as(os) colegas aproveitem esta leitura e possam aprofundar ainda mais suas práticas — porque este, sem dúvida, é um momento muito especial.

Ana Roxo

Florais e Astrologia

Em um atendimento recente com uma astróloga querida, ela compartilhou preocupações específicas de seu mapa relacionadas ao ingresso do Sol em Câncer. Apesar de a astrologia ter sido meu primeiro amor, não atuo mais com ela há anos e raramente a trago para os atendimentos em Terapia Floral.
No entanto, por conta da natureza do trabalho dela, acabamos conversando sobre florais que se afinam com as características de alguns signos — no caso dela, o signo de Câncer. Como o tema ainda está fresco, compartilho aqui alguns exemplos.
Lembrando que os florais citados se relacionam com as características do signo “puro”, ou seja, em um campo teórico. Na prática, ninguém possui um signo isolado em seu mapa astrológico — todos somos atravessados pelos símbolos dos doze signos.
– Honeysuckle (Bach): no aspecto negativo, prende-se ao passado — tanto às alegrias quanto às dores — e dialoga bem com a natureza canceriana, marcada pelo apego às memórias, às raízes e pela nostalgia de tempos vividos. Essa associação vale para todas as variantes da Madressilva presentes em diferentes sistemas florais.
– Chicory (Bach) e Chicorium (Minas): representam bem características associadas à maternidade. São florais clássicos da carência e da manipulação emocional, que pode se manifestar por meio de um apego intenso, muitas vezes sufocante, aos que se ama. Como Câncer é um signo de água, e Chicory se relaciona a esse elemento, também pode expressar uma hipersensibilidade emocional.
– Red Chestnut (Bach) e Trimera (Minas): trabalham a preocupação excessiva com o bem-estar alheio. Pessoas com a Lua em posição proeminente no mapa, ou com uma forte presença do signo de Câncer — seja pelo Sol ou por múltiplos planetas nesse signo — tendem a experimentar essa preocupação com aqueles que amam. Afinal, maternar não é apenas um verbo qualquer dentro dessa configuração astrológica.

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– Aspen e Mimulus, ambos do sistema Bach, ajudam a amenizar medos — sejam vagos ou conscientes — frequentemente presentes nesse signo tão sensível. Cancerianos, por sua natureza receptiva, podem “atravessar o campo” dos outros ou captar informações mais densas, o que gera uma sensação de vulnerabilidade.
Aspen contribui para conter esse estado mais poroso, como uma espécie de “esponja emocional”, enquanto Mimulus favorece um enfrentamento mais direto e corajoso dos medos reconhecíveis.
E, se estamos falando de Câncer, não dá para ignorar sua sombra: Capricórnio. Todo signo tem seu oposto complementar, que representa sua sombra. E só para não dizer que não falei dele — Capricórnio (meu queridinho… sou estranha, eu sei rs) — é um signo que também dialoga com o medo.
Mas, cá entre nós: qual signo não dialoga? E qual floral não toca, de alguma forma, essa emoção?
Fica para a próxima.

Ana Roxo

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